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Conceição do Coité, Bahia, Brazil
Pedagoga, Matemática, Mãe, Gestora da Escola Antônio Bahia-Conceição do Coité, Petista por enquanto, Amo LULA, luto por justiça, igualdade, odeio qualquer tipo de calúnia, discriminação ou preconceito. E vou vivendo... Música, poesia, livros, arte, cultura, internet, política e educação são minhas diversões. No mais o mundo é uma caixinha de surpresas, é só querer descobrir!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sectarização e Radicalização: do Blog Filosofando na Penumbra

sábado, 12 de março de 2011

Sectarização e Radicalização-Palavras de Paulo Freire

“A sectarização é sempre castradora, pelo fanatismo de que se nutre. A radicalização, pelo contrário, é sempre criadora, pela criticidade que a alimenta. Enquanto a sectarização é mítica, por isto alienante, a radicalização é crítica, por isto libertadora. Libertadora porque, implicando no enraizamento que os homens fazem na opção que fizeram, os engaja cada vez mais no esforço de transformação da realidade concreta, objetiva. A sectarização, porque mítica e irracional, transforma a realidade numa falsa realidade, que, assim, não pode ser mudada.” (FREIRE 2005)
A palavra “secto” do latim sectus significa cortado, cerceado, amputado. A sectura é um corte, uma incisão que separa duas partes. Dela vem sectário, aquele que segue uma das partes, que se aparta do todo, que vai atrás, que acompanha.
Por outro lado “radicar” (radicalizar) significa descer à raiz, ao fundamento que faz algo ser o que é. Radicalizar é descer à raiz genealógica de uma emergência que nos afeta, mesmo que essa descida fale muito mais de nós e da forma como vemos o mundo, do que do próprio objeto de estudo.
Fato é, também, que o radical muitas vezes é sectário. Ou seja, sua suposta descida à raiz se faz por apenas um dos lados. O sectário acredita ser radical, ao passo que o radical muitas vezes é sectário sem o saber. O que diferencia um do outro, talvez, seja que o radical esteja disposto a uma dialética entre várias descidas perspectivas daquilo que o afeta, ao passo que o sectário acredita deter a totalidade da realidade e se contenta apenas com uma única descida, que julga ser “a descida”; definitiva. Não há dialética para o sectário.
Mas tudo isso são nomes. Parece-me que na prática todos querem ser radicais e acabam sendo sectários. Quem de nós, mesmo na melhor das intenções, podemos dizer que chegamos à raiz definitiva de algo? O que nos resta são tentativas honestas de conseguir, imprimindo uma dialética nas descidas a partir de várias perspectivas possíveis. Mas o simples impulso frente à percepção da necessidade de descer já implica um sectarismo, ou seja, existe um lado eleito: o lado de que a realidade tal qual percebemos precisa ser entendida para ser modificada.
Logo, toda radicalização começa de um sectarismo, que se pretende radical, mas não garante que o será, mesmo ainda com uma tentativa dialética de sê-lo.
Na verdade não importa, pois é na diversidade de lados possíveis que a dialética se estabelece. Muito mais do que a tentativa do próprio radical fazê-la, a dialética é dada na própria radicalização (sectária no início), impressa pela reação contrária de quem não concorda com qualquer descida.
O que entendo que Paulo Freire queira dizer fazendo essa distinção, é que a radicalização quando dialética se abre ao outro lado sem mitificar o próprio lado; coisa que o sectário não faz por definição. Se o fizer, é radical e não sectário. Como disse, são meros nomes, categorizações.
O que fica dessa pequena reflexão é a constatação de muitos jovens buscando uma radicalização para entender o meio em que vivem, mas apenas elegendo um lado a partir do que lhe afeta no outro. É essa visão mítica (de que o que não se conhece é melhor que aquilo ruim que se conhece) que precisa ser radicalizada e analisada em suas raízes. Antes de qualquer descida é preciso descer às nossas próprias motivações e entender (ou mesmo esboçar) os possíveis porquês que nos fazem agir como nossos impulsos nos dizem para agir. Precisamos, se é que precisamos algo, sermos radicais primeiro conosco.

Isso seria possível? Fica a reflexão…

Referência

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 47ª Edição. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2005.




E UMA GRANDE REFLEXÃO!!!

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