Coisas da Tamonca

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Conceição do Coité, Bahia, Brazil
Pedagoga, Matemática, Mãe, Gestora da Escola Antônio Bahia-Conceição do Coité, Petista por enquanto, Amo LULA, luto por justiça, igualdade, odeio qualquer tipo de calúnia, discriminação ou preconceito. E vou vivendo... Música, poesia, livros, arte, cultura, internet, política e educação são minhas diversões. No mais o mundo é uma caixinha de surpresas, é só querer descobrir!

sábado, 23 de outubro de 2010

APESAR DE TUDO, HOJE É OUTRO DIA!!! Valquíria Lima

APESAR DE TUDO, HOJE É OUTRO DIA!!!


Valquíria Lima¹

Agora há pouco, conversando pelo msn com uma amiga que mora no Rio de Janeiro, emocionei-me! Ela me disse que o encontro de artistas e intelectuais, em apoio à candidatura de Dilma Roussef, foi um verdadeiro espetáculo, de arrepiar qualquer coração! Lanço mão da metáfora, porque só aquele que sabe o que é uma causa, uma militância por causas sociais é capaz de sentir o “coração arrepiar”, ao saber que pessoas com a expressividade histórica (cada um a seu modo) de Oscar Niemeyer, Chico Buarque, Leonardo Boff, Mano Brown e Margareth Menezes lançaram mão da palavra e da emoção para apoiar um projeto político. E não se trata de qualquer projeto, é a travessia por um Brasil diferente, com outros paradigmas, que reconhece as suas diferenças, as suas dores, as suas lutas e as transforma em políticas públicas.

É o Brasil que faz a minha avó, dona Sílvia, de lá da roça, em Tucano, do alto dos seus quase noventa, dizer: “O pobre que não votar em Lula, é porque não tem vergonha na cara!”. Uma mulher simples, trabalhadora, que aos 89 anos ainda vende verduras na Feira - porque quer. Aposentada há mais de 20, em cuja roça já possuía energia elétrica e que não recebe bolsa família, minha avó sabe observar as suas colegas da feira, a vida das outras pessoas e, embora sua análise não possua interesse pessoal (como diriam os pseudointelectuais que acham que pobre, velho, nordestino não sabe pensar, nem votar); a sua avaliação do governo Lula é feita com o coração e com a sabedoria de quem sabe perceber o cotidiano dos trabalhadores como ela.

É esse Brasil das muitas “donas Silvias” que faz um homem com a sabedoria de Niemeyer, que atravessou mais de um século de Brasil, sair da sua casa e ir à rua pedir votos para Dilma. Oscar Niemeyer tem 102 anos, reconhecimento internacional, nacional, sabedoria proclamada, conheceu vários países, governos (alguns bem de perto), questões políticas. Revolucionou a arte arquitetônica e é estudado em universidades do mundo inteiro. Ele não teria, certamente, nenhum motivo aparente para comprar esta briga, a não ser a causa, o reconhecimento da importância de um governo que olha para os excluídos e busca sua inclusão.

O gênio da música popular brasileira, Chico Buarque, não costuma sair de casa por qualquer coisa. A programas da Rede Globo, não vai nem amarrado. Ele, um homem das letras geniais, dos livros geniais, que debatem a sociedade brasileira, os excluídos, as mulheres... ele, que conheceu a ditadura e um Brasil autoritário, desta vez saiu e foi ao palco aberto dizer: “Vim reiterar meu apoio a essa mulher de fibra, que vai herdar o sucesso da justiça social, uma marca do Lula. Somos iguais, não falamos fino com Washington, nem grosso com a Bolívia e o Paraguai”!

Leonardo Boff, um incansável lutador contra a ditadura, portanto, companheiro de Dilma (com todas as honras que esta condição lhes dá) apoiou Marina Silva no primeiro turno, mas, agora, aquele que ajudou a Editora Vozes a publicar o grande livro “Brasil nunca mais” sabe o que ele não quer: “Mas há um fato que eles (aqui podemos entender como a elite brasileira, os conservadores, o PIG...) não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo”. Disse o grande sábio em artigo há pouco tempo. Ele sabe o Brasil que não quer e, por isso, foi ao ato pedir votos, desta vez, para Dilma Roussef.

O mano Mano Brown também esteve lá. Este, como Lula, para ‘eles’ pouco vale. É um preto, da periferia, canta rap, é marginalizado pela sociedade, produz conhecimento, mas, como ocorre com o presidente Lula, ‘eles’ se recusam a reconhecer. Mas a galera que acredita em um Brasil justo e diferente sabe bem quem é Mano Brown, reconhece seu valor, sua sabedoria e a força das suas músicas. O homem que canta “500 anos o Brasil é uma vergonha!” e lota os shows por onde passa, fez questão de ir lá reafirmar que entende a história do Brasil e que este momento é muito importante para os filhos das periferias. Foi lá para dizer pros manos todos que ele quer Dilma presidente.

Margareth Menezes, a baiana de voz inconfundível, a mulher negra que sempre esteve ao lado das lutas sociais, foi lá pra cantar, mas não só pra isso, foi lá pra dizer que ela quer um Brasil que olhe para os negros com outro olhar e que este país já começou a acontecer; ou não somos capazes de ver quantos passos demos para a inclusão dos negros e negras nestes 08 anos de governo Lula. A musa foi lá para dizer que como mulher, negra e baiana, ela também quer Dilma, uma mulher, no mais alto cargo decisivo deste país.

Diferentes artistas, diferentes pensadores do Brasil, mas, no coração, a certeza de que a luta por um Brasil de todos é a mais importante CAUSA. O “velho – e sempre atual - Chico” escreveu, metaforicamente, para se contrapor à ditadura militar que “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Nós, brasileiros, sempre acreditamos nisto e, mesmo com os 500 anos de exclusão, de negros e índios subjugados, fora das escolas e universidades, de mulheres massacradas, de miséria, de pobreza, de Nordeste esquecido, nós acreditamos em um Brasil diferente e quebramos as regras das perversas elites nacionais: elegemos um nordestino, pernambucano, que saiu daqui de pau de arara, operário, presidente do Brasil. E que ironia, o OPERÁRIO ganhou o reconhecimento do mundo e deu de goleada no sociólogo da USP.

Com o operário, conquistamos 14 novas universidades federais, 214 novas escolas técnicas, o PROUNI, o Luz para Todos, as secretarias especiais de direitos para as mulheres, negros, direitos humanos, a recomposição do Estado forte através dos concursos públicos, os pontos de cultura, o trabalho para os pais e mães de família acreditarem nos sonhos. Só não reconhece o valor disto quem não sabe o que são as dificuldades ou quem não sabe o valor de uma CAUSA. Ainda falta, é verdade, mas quem pode fazer isto tem que ter o olhar do Lula, das lutas, da JUSTIÇA SOCIAL. Conhecemos a história e sabemos quem sempre esteve – incondicionalmente – ao lado das elites. Não é à toa que o agrobusiness votou todo em José Serra. Sabemos o que NÃO queremos! Por isso, estes cinco importantes personagens da história do Brasil foram a mais um momento histórico decisivo, dizer O QUE queremos: DILMA PRESIDENTE!!!

[1]  Professora de Linguagens e Literatura Brasileira do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS, doutoranda em Literatura e Cultura pela UFBA.

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