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Conceição do Coité, Bahia, Brazil
Pedagoga, Matemática, Mãe, Gestora da Escola Antônio Bahia-Conceição do Coité, Petista por enquanto, Amo LULA, luto por justiça, igualdade, odeio qualquer tipo de calúnia, discriminação ou preconceito. E vou vivendo... Música, poesia, livros, arte, cultura, internet, política e educação são minhas diversões. No mais o mundo é uma caixinha de surpresas, é só querer descobrir!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O aniversário do presidente

Um belíssimo texto, de uma fantástica escritora, poeta, jornalista, amiga, e cunhada. Obrigada Mariana Paiva, poder ler Lula e dar esse presente a ele através de você é muito gratificante.

O aniversário do presidente


Por Mariana Paiva*

Hoje acordei e era aniversário do presidente. Eu e grande parte da população brasileira não recebemos nenhum convite de comemoração, mas tenho a sensação de que a celebração mais importante é outra. O que o fato de ser o aniversário do presidente revela, na verdade, é o mais relevante: finalmente alguém conseguiu se tornar importante para as pessoas. Nunca, até Lula aparecer, vi algum ser humano se comover porque ‘ hoje é aniversário do presidente’. Desconfio até – palavra de quem nasceu quase no fim do regime militar – que ninguém no Brasil lembrava que presidente também apagava velinha antes de Luís Inácio aparecer. Acho que, para muita gente, aniversários passaram, como se diz por aí, em brancas nuvens.

E aí que eu, antipartidária que sou, me pergunto por que, para tanta gente, o dia hoje amanheceu assim. E lembro do professor J. J. Calmon de Passos, que dizia que as elites eram perversas e que, vez por outra, jogavam ao povo algumas migalhas de seu banquete real. Talvez a resposta esteja exatamente aí: pela primeira vez, a diarista da casa da gente pôde ter uma televisão zero quilômetro. O mérito não é porque o pobre passou a comer mais frango, fato que era exaltado em governos anteriores. Mas porque ele agora tem um pouco mais de autoestima e dignidade para pensar em melhorar sua própria realidade. E mais que creditar toda essa melhora ao presidente ou ao grupo político A ou B, há que se perceber que foi o povo quem fez isso tudo. Se o país melhorou, foi pela multidão de anônimos que sai todos os dias para trabalhar, e que, no fim do mês, quando o salário chega, vai comprar um sofá novo e movimentar a economia. Aí é que o presidente Lula entra: antes dele, muitas dessas pessoas não achavam que podiam alguma coisa. Quem morava na roça, queria morar na cidade para ter acesso ao mundo. Quem morava nas cidades, queria ir embora pro campo, porque não agüentava mais a correria que, no final das contas, não melhorava muita coisa. Resumindo: o brasileiro andava de saco cheio de ser brasileiro. E pior: de passar esse atestado – muitas vezes nada positivo – pro resto do mundo.

Então Lula apareceu. Podia não ser uma solução, mas já era uma esperança. Ali estava um nordestino que tinha na boca o sabor amargo dos dias difíceis do passado. Ele certamente seria mais capaz que os outros de entender tanta gente que passava pelo mesmo. Se hoje, todo candidato a presidência que se preze quer mostrar que teve seus dias de “pobrinho”, é porque sabe que às vezes, mais importante que proposta é a identificação. Foi isso: o eleitor viu em Lula, desde o início, alguém que falava sem o sotaque prepotente de Harvard e que, nos fins de semana, gostava mesmo era de samba e cervejinha. Vem cá, político não tem que representar o povo? Então pronto.

Tem mais: assistencialistas ou não, os programas deste governo liderado pelo primeiro presidente que faz aniversário na história do Brasil impediram que muita gente morresse de fome. E só em não deixar que isso acontecesse (olha Caetano aí, que escreveu que “gente é pra brilhar/não pra morrer de fome”), vamos lá, ele já merece algum louro. Nem sei se ele vai saber, mas independente de este ano ele fazer aniversário às vésperas da eleição, a maior vitória não vai ser nem a de Dilma nem a de Serra, mas a dele. A de ter tido direito de festejar hoje com tanta gente perto, ainda que longe.

*Mariana Paiva é jornalista, mestranda em Cultura e Sociedade na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e autora do blog Assim Falou Mariana (http://www.assimfaloumariana.blogspot.com/)

jornalista
DRT/BA 3363


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